quarta-feira, 6 de abril de 2011

Uma tragédia grega

(...) - O MENSAGEIRO - Mas o mais doloroso de tudo te escapa: ao menos terás sido poupado do que vi. Apesar de tudo, na medida em que minha memória o permita, saberás o que sofreu a infortunada. Assim que transpôs o vestíbulo, furiosa, ela corre em direção ao leito nupcial, arrancando-se os cabelos com as duas mãos. Entra e violentamente fecha a porta atrás de si. Então chama o nome de Laio, morto há tantos anos; evoca "o filho que outrora ele lhe deu e por quem ele próprio pereceu, para deixar a mãe, por sua vez dar a seus próprios filhos uma sinistra descendência". Ela geme sobre o leito "onde, miserável, gerou um esposo de seu esposo e filhos de seu filho!" Ignoro como ela morreu em seguida, pois nesse momento Édipo, urrando, surge no meio de nós, impedindo-nos de assistir ao fim dela: então só tivemos olhos para ele. Ele vai de um lado para outro, em volta do nosso grupo, suplicando que lhe dêem uma arma, perguntando-nos onde poderá encontrar "a esposa que não é sua esposa, mas que foi um ventre materno para ele e para seus filhos". Nesse momento um deus certamente dirige seu futuro, pois não foi nenhum dos que o cercavam comigo. Subitamente, ele lança um grito terrível e se precipita, como que conduzido por um guia, sobre os dois batentes da porta, faz saltar o ferrolho da fechadura, e corre para o meio da praça... A mulher está enforcada! Está ali, diante de nós, estrangulada pela corda que oscila do teto... Ao ver esse espetáculo, o infeliz emite um gemido terrível. Ele desamarra a corda, e o pobre corpo cai ao chão... O que se viu então foi um espetáculo atroz. Arrancando os colchetes de ouro que ornavam as vestes da rainha, ele os ergue no ar e os enterra nos próprios olhos. (...)".

Édipo Rei, de Sófocles.

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